Missa no Morro do Cruzeiro em 5/6/2010 |
A ação da Igreja em defesa do meio ambiente está amplamente
fundamentada nas três fontes teológicas que alimentam a vida espiritual e a
ação da Igreja no mundo: o Magistério, a Tradição e as Sagradas Escrituras. Em
sua mensagem para a celebração do dia mundial da paz em 2007, o Papa Bento XVI
escreveu:
“A experiência demonstra que toda a atitude de desprezo pelo
ambiente provoca danos à convivência humana, e vice-versa. Surge assim com
mais evidência um nexo incindível entre a paz com a criação e a paz entre os
homens. Uma e outra pressupõem a paz com Deus.”
Está aqui uma visão revolucionária que transcende o conceito
antropocêntrico que coloca o homem como senhor de todas as coisas criadas, e
aponta para uma visão biocêntrica em que o pleno desenvolvimento humano depende
da coexistência pacífica e equilibrada com todos os demais elementos da
criação.
O Documento de Aparecida, promulgado em maio de 2007 no
encerramento da V Conferencia Geral do Episcopado Latino Americano e do Caribe,
convoca os cristãos católicos para agirem em comunhão e com determinação diante
dos problemas ambientais que nos desafiam, dizendo:
“Não permitamos que nosso mundo seja uma terra cada vez mais degradada
e degradante”.
A consciência atual do magistério da Igreja Católica leva em
consideração as informações técnicas apresentadas pelos especialistas no
assunto, mas se apóia com mais propriedade nos sólidos testemunhos deixados por
cristãos notórios ao longo da história do cristianismo, como por exemplo, São
Francisco de Assis, citado na mencionada Carta do Papa Bento XVI.
São Francisco, inspirador e patrono das Pastorais da
Ecologia, nasceu em uma próspera família de comerciantes na cidade de Assis em
5 de julho de 1182 e, tendo experimentado o conforto proporcionado pela riqueza
material, contrariou as expectativas da sua família e trocou a promissora
carreira dos negócios por uma vida humilde de trabalho manual e contemplação. Reportava-se
aos elementos da natureza como irmãos por entender que a plenitude da vida não
depende da acumulação de riquezas, e sim da convivência pacífica e respeitosa
entre todos os elementos criados.
Mas, com certeza são das Sagradas Escrituras, fonte primeira
da teologia cristã, que se alimentam tanto a tradição quanto o magistério. O
relato javista da criação, no livro de Gênesis, é um dos mais belos textos
ecológicos que nos convida a repensar todos os paradigmas da civilização
contemporânea. Ali, concomitante ao ato da criação, logo depois de ter criado o
ser humano, Javé Deus plantou um jardim onde dispôs de forma harmoniosa, as
fontes de água, os animais e todas as espécies de árvores formosas para ver e
boas para comer. Ora, o plantio de um jardim supõe um projeto pensado
minuciosamente para satisfazer os anseios do espírito e não apenas as
necessidades do corpo. Assim, o jardim criado Por Deus é um lugar especial onde
também Ele se sente bem e em comunhão com suas criaturas. No centro do seu
jardim, contrariando nosso arraigado conceito antropocêntrico, ele colocou a
árvore da vida e então tomou o ser humano que havia criado e o colocou no Jardim
para cultivá-lo e guardá-lo, assim, recebemos do Criador a nossa primeira e
mais sublime missão: cuidar do jardim criado, para que nele, todas as criaturas
possam viver em harmonia entre si e com o criador. E, para que pudesse realizar a contento sua tarefa, o ser
humano recebeu de Deus um mandamento que contém uma permissão e uma proibição:
“Podes comer de todas as árvores do jardim, mas da árvore do
conhecimento do bem e do mal não comerás, porque no dia em que dela comeres
terás de morrer.” (Gn 2, 15-16)
Nesse relato transparece a interdependência virtuosa dos
seres criados: a árvore é a guardiã da vida; a vida da árvore é confiada aos
cuidados humanos; para viver, a criatura humana pode se alimentar da árvore da
vida; o consumo humano, porém, deve respeitar um limite que assegure as condições
de reprodução da vida da árvore. Ao se colocar no centro da criação e se
proclamar conhecedor do bem e do mal o ser humano rompeu com esse equilíbrio
virtuoso e iniciou um estilo de vida fundamentado no consumo excessivo e no
desperdício que explora os serviços naturais acima de seu limite de segurança e
provoca a maioria dos problemas ambientais que nos afligem atualmente.
À luz da teologia da criação ganha grande relevância
ecológica o estilo de vida humilde adotado e recomendado por Jesus ao longo da
sua vida. O seu seguimento além de ser um exercício de elevação espiritual torna-se
imprescindível para promover o equilíbrio do ecossistema planetário. Ficam
algumas citações dos Evangelhos que exaltam a vida humilde e questionam a
riqueza e o desperdício:
“Olhai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros. E, no
entanto, o vosso Pai celeste os alimenta. Ora, não valeis vós mais do que
elas?” (Mt 6,26);
“Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens e dá aos
pobres, e terás um tesouro nos céus, depois vem e segue-me” (Mt 19, 21);
“As raposas tem tocas e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do
Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Lc 9, 58);
“Não leveis ouro, nem prata, nem cobre nos vossos cintos, nem
alforje para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem cajado, pois o
operário é digno do seu sustento” (Mt 10, 9-10).
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