domingo, 17 de fevereiro de 2013

A missão ambiental da Igreja no mundo



Missa no Morro do Cruzeiro em 5/6/2010
A ação da Igreja em defesa do meio ambiente está amplamente fundamentada nas três fontes teológicas que alimentam a vida espiritual e a ação da Igreja no mundo: o Magistério, a Tradição e as Sagradas Escrituras. Em sua mensagem para a celebração do dia mundial da paz em 2007, o Papa Bento XVI escreveu:

“A experiência demonstra que toda a atitude de desprezo pelo ambiente provoca danos à convivência humana, e vice-versa. Surge assim com mais evidência um nexo incindível entre a paz com a criação e a paz entre os homens. Uma e outra pressupõem a paz com Deus.”

Está aqui uma visão revolucionária que transcende o conceito antropocêntrico que coloca o homem como senhor de todas as coisas criadas, e aponta para uma visão biocêntrica em que o pleno desenvolvimento humano depende da coexistência pacífica e equilibrada com todos os demais elementos da criação.

O Documento de Aparecida, promulgado em maio de 2007 no encerramento da V Conferencia Geral do Episcopado Latino Americano e do Caribe, convoca os cristãos católicos para agirem em comunhão e com determinação diante dos problemas ambientais que nos desafiam, dizendo:

“Não permitamos que nosso mundo seja uma terra cada vez mais degradada e degradante”.

A consciência atual do magistério da Igreja Católica leva em consideração as informações técnicas apresentadas pelos especialistas no assunto, mas se apóia com mais propriedade nos sólidos testemunhos deixados por cristãos notórios ao longo da história do cristianismo, como por exemplo, São Francisco de Assis, citado na mencionada Carta do Papa Bento XVI.

São Francisco, inspirador e patrono das Pastorais da Ecologia, nasceu em uma próspera família de comerciantes na cidade de Assis em 5 de julho de 1182 e, tendo experimentado o conforto proporcionado pela riqueza material, contrariou as expectativas da sua família e trocou a promissora carreira dos negócios por uma vida humilde de trabalho manual e contemplação. Reportava-se aos elementos da natureza como irmãos por entender que a plenitude da vida não depende da acumulação de riquezas, e sim da convivência pacífica e respeitosa entre todos os elementos criados.

Mas, com certeza são das Sagradas Escrituras, fonte primeira da teologia cristã, que se alimentam tanto a tradição quanto o magistério. O relato javista da criação, no livro de Gênesis, é um dos mais belos textos ecológicos que nos convida a repensar todos os paradigmas da civilização contemporânea. Ali, concomitante ao ato da criação, logo depois de ter criado o ser humano, Javé Deus plantou um jardim onde dispôs de forma harmoniosa, as fontes de água, os animais e todas as espécies de árvores formosas para ver e boas para comer. Ora, o plantio de um jardim supõe um projeto pensado minuciosamente para satisfazer os anseios do espírito e não apenas as necessidades do corpo. Assim, o jardim criado Por Deus é um lugar especial onde também Ele se sente bem e em comunhão com suas criaturas. No centro do seu jardim, contrariando nosso arraigado conceito antropocêntrico, ele colocou a árvore da vida e então tomou o ser humano que havia criado e o colocou no Jardim para cultivá-lo e guardá-lo, assim, recebemos do Criador a nossa primeira e mais sublime missão: cuidar do jardim criado, para que nele, todas as criaturas possam viver em harmonia entre si e com o criador. E, para que pudesse realizar a contento sua tarefa, o ser humano recebeu de Deus um mandamento que contém uma permissão e uma proibição:

“Podes comer de todas as árvores do jardim, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás, porque no dia em que dela comeres terás de morrer.” (Gn 2, 15-16)

Nesse relato transparece a interdependência virtuosa dos seres criados: a árvore é a guardiã da vida; a vida da árvore é confiada aos cuidados humanos; para viver, a criatura humana pode se alimentar da árvore da vida; o consumo humano, porém, deve respeitar um limite que assegure as condições de reprodução da vida da árvore. Ao se colocar no centro da criação e se proclamar conhecedor do bem e do mal o ser humano rompeu com esse equilíbrio virtuoso e iniciou um estilo de vida fundamentado no consumo excessivo e no desperdício que explora os serviços naturais acima de seu limite de segurança e provoca a maioria dos problemas ambientais que nos afligem atualmente.

À luz da teologia da criação ganha grande relevância ecológica o estilo de vida humilde adotado e recomendado por Jesus ao longo da sua vida. O seu seguimento além de ser um exercício de elevação espiritual torna-se imprescindível para promover o equilíbrio do ecossistema planetário. Ficam algumas citações dos Evangelhos que exaltam a vida humilde e questionam a riqueza e o desperdício:

“Olhai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros. E, no entanto, o vosso Pai celeste os alimenta. Ora, não valeis vós mais do que elas?” (Mt 6,26);


“Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens e dá aos pobres, e terás um tesouro nos céus, depois vem e segue-me” (Mt 19, 21);


“As raposas tem tocas e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Lc 9, 58);


“Não leveis ouro, nem prata, nem cobre nos vossos cintos, nem alforje para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem cajado, pois o operário é digno do seu sustento” (Mt 10, 9-10).